Impostos sobre empresas no Brasil estão entre os mais altos do mundo, diz Banco Mundial

Os impostos corporativos, ou seja, aqueles cobrados das empresas, estão entre os mais altos do mundo na América Latina e no Caribe, sendo que as taxas na Colômbia e no Brasil estão entre as mais elevadas desses país, informou nesta quarta-feira (9) o Banco Mundial.

A instituição acrescenta, por meio de relatório sobre a região intitulado “Taxar a riqueza para equidade e crescimento”, que “questões estruturais” como impostos altos, custo do capital, baixo nível de escolaridade da força de trabalho, política deficiente de energia e infraestrutura e instabilidade social, devem ser tratadas com “urgência”.

[caption id="attachment_111771" align="alignleft" width="696"]Impostos sobre empresas no Brasil estão entre os mais altos do mundo, diz Banco Mundial (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)[/caption]
“Em poucas palavras, se uma empresa que sai da China pudesse escolher entre ir para o Vietnã (com índices de educação acima da média dos países membros da OCDE), baixos níveis de violência, órgãos governamentais atenciosos e impostos corporativos de 20%, ou ir para a América Latina e Caribe onde ainda há grandes desafios em todas essas áreas e onde os impostos corporativos em alguns dos possíveis destinos são de 25% a 35%, a empresa provavelmente optaria por buscar novos parceiros na Ásia”, diz o Banco Mundial.

Atualmente, a alíquota do IRPJ cobrado das empresas está em 15%, e também existe um adicional adicional de 10% para lucros acima de R$ 20 mil por mês (empresas de maior porte). Junto com a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), a tributação sobre as maiores empresas é de cerca de 34% no Brasil.

Segundo dados da Tax Foundation, organização sem fins lucrativos que atua há mais de 80 anos fazendo avaliações sobre impostos e coletando dados sobre tributos ao redor do mundo, o IRPJ médio dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 38 nações mais desenvolvidas, foi de 23,6% em 2021.

Brasileiro já pagou mais de R$ 2 trilhões em impostos este ano

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou, no ano passado, a primeira etapa da reforma tributária no Congresso Nacional, que engloba as regras dos impostos sobre o consumo (ICMS, PIS, Cofins, ISS e IPI). Entretanto, ainda falta ser aprovada sua regulamentação.

  • A equipe econômica, chefiada pelo ministro Fernando Haddad, da Fazenda, informou que quer levar adiante, até o fim do governo, alterações também na tributação sobre a renda.
  • Parte da discussão já foi antecipada, por meio da taxação de offshores (investimentos no exterior) e dos fundos exclusivos (fundos de investimento personalizados para pessoas de alta renda).
  • O governo também já propôs algumas alterações, como o aumento do IR e da CSLL para empresas, além de mudanças nos juros sobre capital próprio, para ajudar a equilibrar as contas em 2025.

Após a regulamentação da reforma tributária, o ministro Haddad informou que sua equipe pretende levar adiante reformas mais profundas sobre a renda, com a isenção do IR das pessoas físicas para quem ganha até R$ 5 mil, promessa de campanha de Lula, além da tributação da distribuição de lucros e dividendos a pessoas físicas.

E o secretário extraordinário do Ministério da Fazenda para a reforma tributária, Bernard Appy, informou no ano passado ao g1 que o governo federal vai propor uma redução do IRPJ, juntamente com a desoneração da folha de pagamento das empresas.

Ele não antecipou naquele momento, entretanto, qual será a proposta do governo federal para a alíquota do IRPJ, mas afirmou que o Brasil “não vai fugir do padrão internacional em tributação da renda”.

No governo do presidente Jair Bolsonaro, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, almejava reduzir o IRPJ para um patamar máximo de 25% no Brasil.

Estudo do Banco Mundial

No documento divulgado nesta quarta-feira, o Banco Mundial estimou que A América Latina e o Caribe (ALC) crescerão 1,9% em 2024, e que, 2025, a previsão é de que a região cresça 2,6%.

“Essas são as taxas mais baixas entre todas as regiões globais, destacando os gargalos estruturais persistentes”, informou a instituição.

Na semana passada, em pesquisa realizada pelo Banco Central com o mercado financeiro, a projeção foi de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro terá uma expansão de 3% neste ano e de 1,93% em 2025.

Veja outras avaliações do estudo

  • A região América Latina e Caribe está perto de “domar a inflação”, que constitui o segundo grande “macro desafio” decorrente da pandemia após as recessões iniciais. “Entre os países grandes, é provável que Brasil e Peru atinjam suas metas de inflação em 2024, enquanto as demais economias principais os seguiriam logo depois”, diz o documento.
  • Nas contas públicasos gastos do governo continuam elevados, mas espera-se “algum alívio com a queda das taxas de juros” – que reduziriam os gastos financeiros. “A região ainda precisa gerar mais espaço fiscal por meio de ganhos de eficiência, reduções de gastos e aumento da receita tributária. Houve alguma redução nos desequilíbrios de conta corrente, embora isso seja principalmente devido à estagnação dos investimentos”, completou.
  • A baixa acumulação de capital público e privado (investimentos), combinada com o baixo crescimento da produtividade no longo prazo, é um mau presságio para o crescimento de longo prazo, diz o relatório do Banco Mundial.
  • progresso em relação à pobreza e à desigualdade continua lento na América Latina e Caribe. Em 2024, espera-se que a pobreza monetária diminua marginalmente para 24,7% da população da ALC (com base na linha de pobreza), enquanto a desigualdade deve permanecer alta pelos padrões do Banco Mundial, com o coeficiente de Gini de 49,9%.
Tributação de grandes fortunas e de propriedades

O estudo do Banco Mundial conclui que a “desigualdade prolongada, os altos impostos sobre o investimento produtivo que limitam o crescimento e a contínua falta de espaço fiscal fizeram com que a tributação de grandes fortunas surgisse como um possível meio de resolver os três problemas”.

“Os impostos sobre riquezas passaram a ocupar um lugar central na agenda global, especialmente durante a presidência do Brasil no Grupo dos Vinte (G20), onde essa tributação é vista como uma ferramenta para reduzir a desigualdade, aumentar os recursos para combater o aquecimento global e melhorar a governança global”, diz o relatório do Banco Mundial.
O imposto sobre bilionários proposto pelo presidente Lula da Silva e pelo presidente francês Macron, diz o Banco Mundial, poderia, muito provavelmente, gerar o valor esperado de US$ 250 bilhões em todo o mundo para investimento no combate às mudanças climáticas e para contribuir para a equidade.

Mas acrescenta que esse imposto provavelmente não contribuiria muito para os déficits fiscais da América Latina e Caribe, “porque a região tem relativamente poucos bilionários em relação à população”. Acrescenta que os bilionários são “extremamente móveis, o que significa que podem facilmente mudar de local para se evadir dos impostos”.

Por outro lado, o Banco Mundial observa, que surpreendentemente, os países da região normalmente arrecadam apenas 2% de sua receita tributária de impostos sobre a propriedade ( abaixo da média global) apesar do fato de que 80% da riquezas na região é mantida em imóveis.

“A raiz do paradoxo do imposto sobre a propriedade na América Latina e Caribe não está nas alíquotas em si, mas nas avaliações desatualizadas e imprecisas das propriedades que, às vezes, são inferiores a 10% das avaliações de mercado”, diz o documento.

E recomenda que a reforma dos sistemas tributários dos países da região, com vistas a uma maior dependência dos impostos sobre as propriedades poderia aumentar a equidade, promover o crescimento e gerar espaço fiscal (nas contas públicas). No Brasil, os impostos sobre propriedades são cobrados, principalmente, por estados e municípios.

Fonte: G1

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